Recentemente, a Rússia declarou intenção de formar uma comunidade Linux independente, após o afastamento de vários desenvolvedores russos que colaboravam na manutenção do kernel do sistema. Segundo o Ministério de Desenvolvimento Digital russo, o ato de exclusão dos mantenedores foi visto como um “ato discriminatório” contra o país. Com a decisão de lançar uma estrutura alternativa, a Rússia pretende se aproximar de outras nações dispostas a colaborar no desenvolvimento de um sistema operacional aberto, mas independente.
Essa iniciativa vem como resposta à exclusão de 11 mantenedores russos, anteriormente ativos no desenvolvimento do kernel Linux, o núcleo que sustenta o sistema operacional. Os responsáveis pelo projeto Linux explicaram que a decisão foi tomada com base em normas de conformidade e segurança, principalmente em resposta a sanções econômicas e políticas aplicadas por outros países, como os EUA. O próprio Linus Torvalds, criador do Linux, afirmou que a medida é irrevogável e não planeja rever a exclusão, destacando sua posição como finlandês e sua oposição à agressão russa.
Para o governo russo, essa situação abre espaço para a criação de uma comunidade paralela que poderá desenvolver o sistema Linux em uma estrutura independente, sem depender das colaborações com a comunidade original, liderada majoritariamente por desenvolvedores ocidentais. Segundo porta-vozes russos, o objetivo seria criar condições para um trabalho conjunto entre desenvolvedores locais e internacionais, formando um novo produto em código aberto que fosse adaptado às necessidades dos países envolvidos.
Especialistas em cibersegurança na Rússia reagiram de maneira crítica à exclusão dos mantenedores, argumentando que essa decisão poderá prejudicar a confiança dos desenvolvedores e comprometer a qualidade de futuras atualizações do Linux. Em entrevista, um especialista da empresa russa Kaspersky, que já sofreu sanções de países como os EUA, apontou que a desconfiança sobre contribuições russas ao Linux pode dificultar a aprovação de correções e patches críticos para o sistema. Isso, segundo ele, pode trazer consequências para a comunidade global, que se beneficia de melhorias no kernel.
Outro especialista, Ivan Panchenko, cofundador de uma empresa russa especializada em banco de dados de código aberto, minimizou o impacto da saída dos russos, afirmando que a participação dos desenvolvedores do país no kernel não é substancial a ponto de afetar o projeto principal. No entanto, Panchenko destacou a possibilidade de surgirem novas versões, ou “forks”, do kernel Linux criadas por desenvolvedores russos, criando versões personalizadas que poderiam atender às necessidades específicas da Rússia e de parceiros dispostos a colaborar.
A Rússia já enfrenta obstáculos relacionados a sanções no setor de desenvolvimento de tecnologia. Em casos anteriores, programadores e desenvolvedores do país viram suas contas suspensas em plataformas de código aberto, como o GitHub, devido à associação com empresas sancionadas. No entanto, os especialistas acreditam que, ainda que o Linux original continue dominante, essa tensão pode abrir espaço para uma comunidade Linux alternativa e independente, moldada de acordo com interesses geopolíticos emergentes.